A participação da cunhã-poranga do Boi Garantido, Isabelle Nogueira, no reality Big Brother Brasil 2024, está ganhando desdobramentos surpreendentes. A artista que exaltou a todo momento o Amazonas, sua cultura e suas singularidades durante o confinamento na casa global, fez emergir sentimentos identitários nos artistas da terra. Tanto o é que o Fórum Permanente de Música do Amazonas está convocando um encontro da classe, para o próximo sábado, dia 8, às 15h, no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas – CAUA 2, localizado na Praça da Saudade, na rua Simon Bolívar, 215, Centro. Na pauta: editais Aldir Blanc e ‘Sou Manaus, Passo a Paço’.
Uma das vozes que se levanta em busca da valorização dos artistas da terra é a do Conselheiro Estadual de Cultura, Mencius Melo. “Estamos diante de um momento único, em que os artistas do Amazonas se identificaram no rosto e nas ações de uma menina da dança. Isabelle respondeu a um dos questionamentos mais cruéis que nos é feito quando nós, artistas locais, reivindicamos nosso espaço e valorização: ‘Mas quem são esses artistas locais que ninguém vê? Perguntam os que canetam os eventos. A resposta está aí: somos centenas, milhares de ‘Isabelles’, a questão é que ele teve uma única oportunidade e nós não”, destacou.
Outra liderança que assume papel na mobilização dos artistas da música é a Conselheira Municipal de Cultura, Loren Lunière. Assim como Mencius Melo, Loren responde pela cadeira de música. “Está na hora de conversarmos sério sobre o setor econômico da Cultura, Turismo e Economia Criativa. Precisamos movimentar os Fóruns Culturais, unir todos, e começar a discutir o que queremos para a nossa cultura nos próximos 10 anos, no minimo.”, declarou.
Pouco desenvolvimento
Loren destacou parâmetros que hoje fazem parte do dia das pessoas, no Amazonas, inclusive. “A forma que se gere cultura e turismo no nosso Estado é ‘provinciana’, é ultrapassada. E se Isabelle não tivesse entrado no BBB? É assim que fazemos política pública para a cultura? Contando com a sorte? É muito dinheiro público distribuído e pouco desenvolvimento para os trabalhadores da cultura. O setor Cultural representa 3,11% do Produto Interno Bruto do país e a Região Norte é o menor índice. Precisamos das Leis de Incentivo à cultura afirmou a conselheira.
Queremos nos ver
Para Mencius Melo é preciso autocrítica e conexão com novas realidades. “Não temos a pretensão de ditar programações ou agendas culturais pré-estabelecidas, nossa proposta é fazer com que o poder público entenda que os tempos são outros e que o ‘evento pelo evento’ já não gera resultados porque em tempos de redes sociais, nós amazonenses, queremos nos ver na rede mundial, tanto quanto as outras manifestações do mundo. Por isso a Isabelle Nogueira se tornou uma referência para todos nós e fez sucesso”, observou. “Não adianta trazer uma atração internacional para Manaus, quando o mundo quer saber o que tem em Manaus”, afirmou a conselheiro.
Presidente de honra do Fórum, o maestro Everaldo Barbosa corrobora as palavras dos conselheiros Loren Lunière e Mencius Melo. “Acompanho anúncios de grandes atrações nacionais para o ‘Sou Manaus – Paço a Passo’ e vejo um exagero quase folclórico, como se os grandes artistas fossem desconhecidos do público local. Quem não sabe ou conhece os Titãs?”, questionou. “Não seria muito mais afirmativo e identitário anunciar com pompas os artistas da terra? Aliás, primeiro eles e depois as atrações nacionais?”, sugeriu.
Não somos numerais
Everaldo Barbosa também critica o que chamou de “deselegância estética” por parte da Manauscult ao promover o “Sou Manaus – ´Paço a Passo 2024”. “Causa desconforto ler nas peças publicitárias da prefeitura ‘atração nacional tal e mais 900 artistas locais’, ou seja, viramos um numeral para fazer volume. Não temos nome, identidade ou propriedade estética. Ler isso é de doer”, lamentou. “Quero acreditar que quem monta essas peças publicitárias desconhecem a realidade ou não é de Manaus para ter tamanha falta de sensibilidade para com homens e mulheres trabalhadores da cultura”, ponderou.
Além de avaliar a campanha de divulgação do maior evento musical promovido pela Prefeitura Municipal de Manaus, Everaldo chamou atenção para detalhes: “Que fique claro que não somos contra atrações nacionais ou internacionais porque xenofobia não faz parte do nosso ideário artístico e humano. Somos contra não fazer parte do evento ou quando chamados, sermos convidados a tocar num coreto e isso é menosprezar talentos locais porque posso afirmar categoricamente: coreto não é palco!”, finalizou. A assembleia será dia 08, sábado, no CAUA 2, na Simon Bolívar, 215, Centro. A partir das 15h.
Da redação.