Desmatamento na floresta amazônica atinge recorde de janeiro

O Brasil registrou o maior desmatamento já registrado na floresta amazônica no mês de janeiro, de acordo com dados do governo nesta sexta-feira (11), à medida que a destruição continua a piorar apesar das recentes promessas do governo de controlá-la.

O desmatamento na Amazônia brasileira totalizou 430 quilômetros quadrados (166 milhas quadradas) no mês passado, cinco vezes maior do que em janeiro de 2021, de acordo com dados preliminares de satélite da agência governamental de pesquisa espacial Inpe.

Essa é a maior para janeiro desde que a série de dados atual começou em 2015/2016, equivalente a uma área sete vezes maior que Manhattan.

Pesquisadores ambientais disseram que não ficaram surpresos ao ver a destruição ainda aumentando e apontaram para o enfraquecimento das proteções ambientais do presidente de direita Jair Bolsonaro desde que assumiu o cargo em 2019.

Com pouco medo de punição, os especuladores estão cada vez mais desmatando a floresta para fazendas em grilagem de terras, disse Britaldo Soares Filho, pesquisador de modelagem ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais. Os altos preços da carne bovina, soja e outras commodities também estão aumentando a demanda por terras baratas.

“As pessoas podem se surpreender que não aumentou ainda mais”, disse Soares Filho.

“Há uma corrida para desmatar a Amazônia.”

O gabinete de Bolsonaro não respondeu ao pedido de comentário.

O Ministério do Meio Ambiente disse que fazer comparações usando meses únicos não fornece a melhor imagem, afirmando que de agosto a janeiro o desmatamento caiu ligeiramente em relação ao mesmo período do ano passado.

O governo federal está agindo com mais força em 2022 para combater os crimes ambientais, disse o ministério em comunicado à Reuters.

A preservação da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, é vital para conter as mudanças climáticas devido à grande quantidade de gases de efeito estufa absorvidos por suas árvores.

Bolsonaro há muito defende mais agricultura comercial e mineração na Amazônia para ajudar a tirar a região da pobreza.

Enfrentando a pressão internacional dos Estados Unidos e da Europa, o Brasil se comprometeu no ano passado a acabar com o desmatamento ilegal até 2028 e assinou um pacto global para acabar com toda a destruição florestal até 2030.

Logo após esses compromissos, o Inpe divulgou dados que mostram que o desmatamento em 2021 na Amazônia brasileira atingiu o ponto mais alto em 15 anos. Os dados preliminares de janeiro mostram que a destruição continua aumentando.

MUDANÇA POLÍTICA

Ana Karine Pereira, cientista política da Universidade de Brasília, disse que enquanto Bolsonaro e seu governo mudaram de tom no ano passado, suas políticas permanecem as mesmas.

Soares Filho e Pereira disseram que o desmatamento só vai parar de aumentar se Bolsonaro perder a eleição presidencial em outubro.

“Mudar o perfil político do presidente e da liderança do governo federal é crucial neste momento para ver uma quebra nessa tendência de altos índices de desmatamento”, disse Pereira.

O alto desmatamento é incomum na atual estação chuvosa, quando a floresta tropical é mais difícil para os madeireiros acessarem. Os dados de janeiro mostraram que a nova derrubada ainda era menos da metade do que é comum durante os meses de pico de junho a setembro.

Um pesquisador de monitoramento de desmatamento do Inpe disse à Reuters que o aumento observado no mês passado pode ser parcialmente devido aos níveis mais altos de cobertura de nuvens em novembro e dezembro do que no ano anterior.

Essas nuvens podem ter ocultado a destruição dos satélites naqueles meses que foi posteriormente revelada em janeiro, disse a pessoa, que não estava autorizada a falar publicamente.

Ainda assim, a cobertura de nuvens permaneceu relativamente alta em janeiro, caindo para 43% de 54% em dezembro.

Da REUTERS