Especial: 1 ano da crise de oxigênio em Amazonas – Primeira parte

Especial: 1 ano da crise de oxigênio em Amazonas - Primeira parte

O segundo ano da pandemia do coronavírus no Amazonas, 2021, começou de forma trágica. A falta de oxigênio nos hospitais para atender pacientes em estado grave levou Manaus a ter 31 pessoas que morreram por asfixia entre os dias 15 e 19 de janeiro, considerado o ápice da crise, de acordo com registros oficiais.

(Foto: Reprodução/Bruno Kelly/Reuters)

A superlotação dos hospitais da rede pública de saúde, a dificuldade de atendimento a pacientes e a falta de insumos, tudo isso em uma gravidade superior à que se verificou na primeira onda, entre abril e maio de 2020, apontava para a piora do cenário.

Na primeira semana de janeiro, a cidade viu a situação se agravar quando o consumo de oxigênio começou a ter um crescimento exponencial.

Janeiro

Durante a primeira onda de internações, em 2020, o uso do insumo alcançou 30 mil metros cúbicos por dia. No início de janeiro de 2021, esse consumo chegou a 81 mil metros cúbicos diários, demanda três vezes maior do que a White Martins, empresa que fornecia oxigênio ao estado, era capaz de produzir.

À época, o governador Wilson Lima e o prefeito de Manaus, David Almeida, chegaram a pedir ajuda ao governo federal e a outros estados do país. (Ouça)

A partir do dia 8 de janeiro, aviões da Força Aérea Brasileira começaram a transportar cilindros de oxigênio em gás para a capital, mas ainda em quantidade insuficiente para suprir a demanda diária.

A falta do insumo colocou pessoas em uma corrida desesperadora contra o tempo para encontrar cilindros que sustentassem a luta dos parentes para sobreviver à Covid-19.

Os dias 14 e 15 de janeiro foram os mais caóticos na capital. Com hospitais e unidades de saúde superlotadas e sem estoque de oxigênio para tratar de infectados pelo vírus, o sistema de saúde do município entrou em colapso. Pacientes internados por Covid-19 morreram com falta de ar. Teve gente que nem conseguiu entrar nas unidades de saúde, de tão lotadas que estavam.

A pressão nacional para levar mais oxigênio a Manaus cresceu e o socorro veio por meio de doações de celebridades, grupos voluntários, anônimos, governos estaduais e até da Venezuela.

Apesar da ajuda, o número de internações ainda atingia recordes e o Amazonas precisou enviar mais de 500 pacientes a outros estados do país para receber atendimento. (Ouça)

Como se não bastasse o colapso na saúde, a algumas pessoas faltou humanidade e caráter. Teve quem se aproveitasse da situação para cometer crimes e lucrar com a tragédia de uma cidade. (Ouça)

Durante a falta de oxigênio, Manaus confirmou o primeiro caso de reinfecção da nova cepa do coronavírus.

A inicialmente chamada P.1, hoje conhecida como variante Gama, foi responsável pela maioria das mortes no início de 2021, conforme estudos divulgados à época.

A segunda onda da pandemia de Covid-19 colapsou também o sistema funerário de Manaus.

Somente em janeiro, mais de 2.500 pessoas morreram em decorrência do coronavírus. Filas imensas de carros em frente aos cemitérios, mais covas abertas e a instalação de câmaras frigoríficas nos hospitais. Esse era o cenário da pandemia na cidade.

A crise no sistema de saúde levou o Governo do Estado a proibir a circulação de pessoas entre às 19h da noite às 06h da manhã, em Manaus.

Fevereiro

Na segunda metade de fevereiro de 2021, um mês depois do pior momento da crise do oxigênio, Manaus ainda registrava demanda muito acima da média do insumo. Mesmo com o governador Wilson Lima afirmando que o estado havia superado a crise, doações ainda eram necessárias.

Ministério Público do Amazonas começou a apurar as responsabilidades.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) também determinou a abertura de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar a eventual omissão do poder público, em todas as esferas. Esse é o tema da segunda reportagem da série especial que você acompanha na BandNews FM 93,7.

Reportagem especial: Cindy Lopes