‘Fico feliz quando vejo mais mulheres em uma audiência’, diz juíza federal Ana Paula Serizawa

Com atuação de mais de 17 anos, a juíza federal Ana Paula Serizawa, falou dos desafios de desbravar o Amazonas como magistrada, em entrevista concedida ao radialista Valdir Correia, nesta segunda-feira (20), em programação especial da campanha “Elas têm o Poder”, realizada pelo grupo Rede Difusora de Rádio.

Antes de assumir como juíza federal, Ana Paula Serizawa atuou no interior como promotora de Justiça, nos anos de 2004 e 2005 e então decidiu fazer concurso federal. “Ser juíza federal no Amazonas realmente é um desafio muito grande, principalmente para levar jurisdição pros municípios em que não há sede da Justiça federal. (…) As distâncias, as dificuldades de locomoção, de acesso a internet são sempre um desafio que precisamos vencer para poder prestar bem a jurisdição”, reforçou.

A juíza ratificou que além dos desafios da profissão, há um grande obstáculo para a mulher, que se difere dos desafios de um homem que ocupa a mesma posição. “O desafio que uma mulher tem no interior, as vezes, é o mesmo que um homem tem, deixar a família, a casa. Mas a mulher realmente tem mais dificuldade porque a vida da mulher no interior – no meu caso – naquela época (2005), era da minha casa para o meu trabalho e do meu trabalho para a minha casa. Os colegas homens ainda jogam uma bola, jogam cartas, dominó, uma sinuquinha, a mulher não tem abertura para fazer essas coisas, tem que se preocupar se vai ficar mal falada ou não. A questão da segurança é falha, então acaba que a gente tem que se cuidar e se resguardar”, pontou.

Nessa vivência, a juíza compartilhou um episódio delicado em sua atuação no interior do Amazonas e compartilhou sua reação.

“Um dia estava em um município próximo a Eirunepé, fiquei no hotel da cidade e à noite saí para jantar, era sete da noite, porque eu não conhecia ninguém. Em determinado momento fui abordada por um homem que pediu pra sentar comigo e me ofereceu um drink, que claro, recusei educadamente e ele começou a gritar, quem eu pensava que eu era, me chamou de ‘vagabunda’ falou um monte de palavrão, simplesmente, porque eu não aceitei um drink dele. No dia seguinte, determinei que o delegado o chamasse em meu gabinete e era outra pessoa, falando manso, devagar. (…) Ele disse que não sabia que eu era uma autoridade, que nunca tinha me visto na cidade e achou que eu fosse uma professora. Quer dizer que uma autoridade merece respeito e uma professora não merece? (…) e aquilo foi me irritando mais”, relembrou.

Sobre a ocupação de mulheres em todos os espaços, a juíza lembrou que já sentiu muitas vezes a ausência do público feminino, mas que tem presenciado a evolução neste quesito. “Já teve casos meus em audiências que eram mais de 20 pessoas e eu percebia que das 20 ou 25 pessoas, só tinha eu de mulher (…) mas isso tem mudado. Esse mês mesmo fiz uma audiência que só tinham mulheres, isso dá uma satisfação de presenciar a mulher ocupando espaços”, observou.

A entrevista completa você confere no canal da Rádio Difusora 96,9 FM, no YouTube:

Elas Têm o Poder

A Campanha “Elas Têm o Poder” é uma programação especial do grupo Rede Difusora de Rádio voltada para as mulheres. Durante todo o mês de março serão realizadas mais de 60 entrevistas, homenagens, debates, reportagens e podcasts sobre o poder que a mulher tem para mudar os locais em que estão inseridas e os desafios que ELAS ainda enfrentam na atualidade.

PARCEIROS

A Campanha “Elas Têm o Poder” é realizada com muita honra pela Rede Difusora de Rádio e tem o apoio do Grupo ATEM, Empresa Tectoy, Irmãos Lima Atacadista, Governo do Amazonas e Apa Móveis.