O mundo assistiu em choque o caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados por conta da atuação de ambos em defesa da Amazônia e dos povos tradicionais. Um editorial do jornal The Guardian, veículo que Dom Phillips colaborava, no título o destaque diz: “O Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os defensores do meio ambiente”.
Segundo um relatório da ONG Global Witness, em 2020, pelo menos 20 ativistas ambientais foram mortos, o que coloca o Brasil como o quarto país que mais mata pessoas ligadas a luta pelo meio ambiente.
O desabafo é de Chico Mendes, seringueiro, ativista e ecologista, que teve destaque no mundo todo, inclusive com condecoração da ONU, pela atuação em prol da floresta e da população que vive nela.
Na noite de 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi morto a tiros de espingarda, no quintal da casa dele, em Xapuri, no Acre, por Darcy Alves da Silva, a mando de seu pai, o fazendeiro Darly Alves da Silva. O latifundiário e grileiro da região via Chico como uma barreira para pôr em prática planos de desmatamento e degradação ambiental.
O estado do Pará também foi palco de uma das maiores tragédias para a luta em favor dos povos da floresta.
A missionária americana Dorothy Stang chegou no estado na década de 70 e se engajou em defender o direito à terra para camponeses e foi responsável pela criação de projetos de proteção da mata.
Numa estrada de terra de difícil acesso a 53 quilômetros de Anapu, interior do Pará, irmã Dorothy, como era conhecida, foi assassinada com sete tiros, por defender os sem-terra.
Os latifundiários Vitalmiro Bastos de Moura e Regivaldo Pereira Galvão foram apontados como os principais mandantes do crime.
Quem acabou de falar foi José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Também no Pará, o casal foi executado em uma emboscada feita por pistoleiros no Assentamento Agroextrativista Praia Alta-Piranheira, onde viviam, no município de Nova Ipixuna, em 24 de maio de 2011.
Eles atuavam na defesa da floresta como forma de subsistência e na criação de uma reserva extrativista no assentamento, onde existia uma das últimas áreas nativas de castanha-do-pará na região, que passou a ser cobiçada por madeireiros, grileiros e fazendeiros da localidade.
Esses foram só alguns casos de ambientalistas que tiveram a vida tirada por defenderem o patrimônio natural que faz da Amazônia um território único.
Bruno e Dom se juntam a Maxciel Pereira dos Santos, Paulo Paulino Guajajara, Gilson Temponi, Osvalinda Pereira, Dilma Ferreira Silva, Zé do Lago, Márcia, Joene e muitos outros que acreditam um mundo mais verde e justo.
O ativista e facilitador no grupo Greenpeace Manaus, Matheus Siqueira, afirma que nos últimos anos, a proteção dada a ambientalistas, que já era pouca, piorou por conta de políticas públicas em desfavor do meio ambiente e de quem o defende.
Um levantamento do Human Rights Watch, ONG de defesa dos direitos humanos, mostra que há relação direta entre desmatamento, organizações criminosas, narcotráfico, garimpo e a violência contra ambientalistas no Brasil.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também indicou em relatório que, de 2009 a 2019, mais de 300 pessoas foram assassinadas no país em conflitos envolvendo demarcação de terras e recursos naturais na Amazônia.